É de Fogo e contém… Água

AT

Ana Cristina Tavares

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

A Opala de Fogo (Fig.1) destaca-se pela sua beleza, pureza e cor, transparência, brilho, dureza e índice de refração da luz.

É deslumbrante a variedade e quantidade de compostos químicos inorgânicos naturais, somando mais de 4.000 minerais: sólidos inorgânicos de composição química característica e estrutura de cristal específica.

Muitos minerais formam bonitos cristais. As gemas ou pedras preciosas, que muitas vezes aparentam ser rochas comuns, só adquirem o brilho que lhes dá o valor quando cortados e polidos.

A gemologia, uma especialização da geologia, é a ciência que estuda as propriedades físicas e químicas de materiais gemológicos (gemas ou pedras preciosas), quer sejam de natureza mineral, ou mineralizações de natureza animal (as pérolas, por exemplo) ou vegetal (o âmbar).

Desde sempre as pedras preciosas cativaram pelo valor material, decorativo ou artístico, e simbólico, religioso ou terapêutico. Os Egípcios e os Sumérios, os Maias e os Gregos, os Antigos, usavam as pedras preciosas para afugentar demónios ou maus espíritos, além de doenças. Outros acreditam que as pirâmides maias ou os templos da Suméria continham pedrarias para receber energia ou forças divinas.

A Igreja, principalmente na Idade Média, definiu as cinco "gemas cardinais": diamantes, rubis, esmeraldas, safiras e ametistas. Todas as outras seriam semipreciosas (termo muito discutido em gemologia). Hoje existem 130 espécies minerais ou mineralizadas consideradas gemas, as mais conhecidas o diamante, corindo, safira, rubi, esmeralda, berilo, água-marinha, zircão, turmalina, topázio, opala nobre, espinela e crisólito oriental.

Opalas são materiais de origem geológica com características semelhantes às dos minerais, mas que não são cristalinos, não possuem um padrão tridimensional bem definido ou uma geometria específica, nem uma composição química uniforme. São constituídas por sílica (substância da areia da praia), amorfa (sem forma tridimensional específica) e hidratada (percentagem de água até 20%). Apresentam fratura concoidal: naturalmente, ou por esforço mecânico, quebram em lascas, justamente por não ter uma estrutura cristalina. Tal característica foi importante na pré-história, período da Idade da Pedra Lascada, em que os nossos ancestrais produziram inúmeras ferramentas usadas na alimentação ou defesa (flechas, lanças, facas, moinhos, etc.).

A Opala de Fogo, uma das muitas variedades de opala, é uma gema de dióxido de silício hidratado (fórmula química: SiO2_nH2O), amorfa, sem estrutura cristalina, agregado em forma de rim ou uva, índice de refração entre 1,37 a 1,52. A cor varia de amarelo a laranja, laranja-vermelho. Gema de transparente a opaca, com brilho sub-vítreo a ceroso, resinoso, e a dureza corresponde a 5,5 a 6,5 ​​na escala de Mohs. O nome deriva da cor laranja ‘ardente’, embora possa ser branca ou castanha.

Em 1849, as opalas de fogo foram descobertas em Angaston, sul da Austrália, por um geólogo alemão Johannes Menge e a produção comercial chegou à Europa com o envio de amostras para corte, polimento e vendas. A Opala de Fogo é habitualmente associada ao México, onde é extraída particularmente no estado de Queretaro (minas descobertas em 1835), entre outros, e também encontradas no Oregon, EUA, Guatemala, Canadá e em depósitos significativos no nordeste do Brasil.

Curiosamente, entre três e dez por cento (e em alguns casos até 21 por cento) do peso da Opala de Fogo é água, como acontece com outras pedras preciosas de opala. Devido ao seu alto teor de água, a Opala de Fogo é bastante delicada e deve ser protegida do calor e da exposição prolongada à luz forte, para evitar a secagem e fissuras.

Esta Opala de Fogo está em exposição na Galeria de Mineralogia – José Bonifácio d´Andrada e Silva, no Colégio de Jesus, Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.