O Centro de Geociências da Universidade de Coimbra usa inteligência artificial para preservar e valorizar as pinturas murais da Igreja de Santa Leocádia em Chaves

Os gestores de património estão a adotar a IA como ferramenta de investigação para evitar erros de interpretação subjetiva. Esta nova ferramenta ajudará a compreender melhor o património cultural e histórico e permitirá a sua valorização.

10 abril, 2024≈ 4 mins de leitura

Detalhe das pinturas murais da igreja de Santa Leocádia.

Durante o estudo da caracterização construtiva e da avaliação do estado de conservação das igrejas românicas de Trás-os-Montes, investigadores de Universidades Portuguesas e Galegas depararam-se com aspetos surpreendentes de interpretação iconográfica, fizeram descobertas artísticas desconhecidas, até então. Investigadores do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra e das universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro e Nova de Lisboa, utilizaram o reconhecimento facial computorizado para interpretar as ambiguidades do estilo Manuelino das pinturas murais da Igreja românica de Santa Leocádia, do Concelho de Chaves, Norte de Portugal.

O desenvolvimento do estudo implicou o estabelecimento de etapas de estudo prévio:

O enquadramento da Igreja de Santa Leocádia, a avaliação da sua autenticidade, essencial para a conservação da identidade cultural da região norte; esta etapa permitiu o reconhecimento do seu valor histórico, arqueológico, artístico, científico e social, aspetos necessários para a manutenção da integridade da igreja.

Os materiais de construção da igreja e das suas pinturas murais foram também objeto de estudo anteriores.

No artigo intitulado Proto-Early Renaissance Depictions, Iconographic Analysis and Computerised Facial Similarity Assessment Connections: The 16th Century Mural Paintings of St. Leocadia Church (Chaves, North of Portugal), publicado recentemente na revista científica internacional HERITAGE, revela-se a importância dos símbolos e ícones na narrativa do estilo Manuelino, que segue os princípios do Renascimento Ético, nas pinturas murais da Igreja de Santa Leocádia. Os investigador Freire-Lista do CGeo dirigiu a equipa que para além de aprofundarem o conhecimento sobre o patrono das pinturas, fazem uma análise comparativa entre as personagens das cenas bíblicas pintadas nas paredes da abside da igreja, entre 1511 e 1513, e aquelas personagens históricas do século XV, retratadas nos Painéis de São Vicente, conservados no Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa e outras pinturas a óleo de Nuno Gonçalves (o retrato de Santa Joana Princesa e os Painéis de São Pedro e São Paulo). Desenvolveu-se uma campanha experimental através de uma comparação direta entre pares de imagens de Nuno Gonçalves e as pinturas murais da Igreja de Santa Leocádia. Os resultados do reconhecimento facial apresentam valores entre 96% e 99% de similitude, indicando que são praticamente idênticas, ou seja, comprova-se assim, a influência dos modelos pintados por Nuno Gonçalves nas pinturas murais da abside da Igreja flaviense. Ao se identificarem os rostos de reis e príncipes da dinastia de Avis, nas referidas pinturas murais, a Igreja de Santa Leocádia se transformou num sítio memorial dos parentes naturais do rei D. Manuel I. Este trabalho de investigação pioneiro utiliza a inteligência artificial para a criação de um relato histórico baseado em dados científicos que permite a conservação e posta em valor do património cultural.

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