Investigador CGEO ganha prémio IACOBUSpapers 2023

O doutor David M. Freire-Lista, investigador do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra, é o primeiro autor de um artigo científico internacional que acaba de ser premiado no âmbito do Programa IACOBUSpapers 2023.

07 fevereiro, 2024≈ 4 mins de leitura

Este trabalho, pioneiro ao relacionar as marcas de pedreiro com a litologia dos silhares de igrejas românicas, permitiu determinar as fases de construção da Igreja românica de Nossa Senhora de Guadalupe em Mouçós, Vila Real (Euroregião Galícia-Norte de Portugal), caraterizar o granito principal de construção e localizar a sua pedreira histórica.

A igreja de Nossa Senhora de Guadalupe em Mouçós, construída inteiramente em granito, é uma das igrejas românicas mais bem conservadas da Europa. Está composta por nave e capela mor retangulares, a nave se manteve praticamente intacta desde a sua construção. Cada um dos seus blocos conserva a marca dos pedreiros medievais que a construíram. Aqueles que assinaram seu trabalho para coletá-lo.

O estudo científico realizado pelo Centro de Geociências da Universidade de Coimbra e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro nos blocos de granito da igreja, nomeadamente a análise das marcas do pedreiro, forneceu informações sobre a sua construção, permitindo entender a evolução ao longo da história e outros aspetos de natureza etnográfica, como os principais produtos cultivados na região durante a Alta Idade Média e o papel das mulheres nos trabalhos agrícolas. De esta forma, hoje sabemos que 8 pedreiros construíram o exterior da igreja, boa parte de eles trabalhou do início ao fim da obra, talhando e instalando os silhares e aduelas. Além de esculpir elementos ornamentais como cachorros. Estes pedreiros assinavam o seu trabalho com letras proto-góticas, usadas nos séculos XII e XIII.

O pedreiro que que fez mais silhares, marcou sua obra com a letra P. Quem assinou com o símbolo em forma de esquadro, trabalhou apenas no início da obra. E o pedreiro que assinou com a letra “a” está representado apenas na parte superior da igreja.

Vale destacar os excecionais cachorros, dispostos de forma ordenada. As cabeças masculinas são mostradas em posição estática na fachada Noroeste, começando pelo bispo, a única cabeça disposta horizontalmente. Nesta fachada encontram-se também cachorros representando cabeças de monstros, cordeiros, barricas de vinho e mulheres mostrando os genitais. Este lado corresponde, portanto, ao lado masculino, com a mulher é representada como objeto sexual.

Na fachada sudoeste predomina a representação de mulheres trabalhando. Desta forma, distinguem-se fiandeiras, feixes de linho com uma escova de metal para descascá-lo e uma infinidade de referências ao vinho: Mulheres segurando cabaças de vinho, bem como referências à olaria.

A capela mor carece de cachorros e nem todos os seus blocos apresentam marcas de pedreiro. Além disso, as suas janelas hoje emparedadas não apresentavam a típica morfologia românica. O que significa que foi modificada e reconstruída posteriormente, possivelmente na Baixa Idade Média, antes de ser pintados os frescos do interior da igreja, datados em 1529, data que coincide com o abade da igreja de Mouçós D. Pedro de Castro, cujo brasão de armas está no exterior da reconstruída capela mor. Hoje algum dos cachorros que pertenciam a capela mor original estão reutilizados na Igreja de São Tiago de Folhadela, também em Vila Real.

Mais informações sovre o Programa IACOBUS aqui.

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