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Medeia (2023)

Estreia: 25 de maio de 2023

Medeia

Adaptação e encenação: Arthur Montenegro (a partir de Eurípides)

Medeia

Evidenciando-se como um dos mitos mais vigorosos da Antiguidade greco-latina, a história de Medeia, a princesa colca que, seduzida por Jasão, deixa a família e a pátria bárbaras para se dirigir à Hélade, na companhia do herói grego, é associada a tópicos tradicionais particularmente sedimentados pela versão trágica de Eurípides, no século V a.C.: a condição de mulher e de estrangeira da princesa, a sua conexão com as artes mágicas, a experiência da união com Jasão e da maternidade, a traição e o abandono de que é vítima, por parte do argonauta, o filicídio que perpetra, a promessa de acolhimento futuro em Atenas, após o assassínio dos filhos.

Heroína famosa de outrora, Medeia continua a ser repetidamente convocada também por autores e encenadores da atualidade para exprimir o presente, revelando-se significativa em leituras diversificadas,expressivas do enorme potencial e da plasticidade de um mito reproduzido de forma mais ou menos consonante com os modelos clássicos referenciais: através da história da princesa colca, questionam-se valores intemporais, a nível individual e coletivo, como o género, a família, as relações interpessoais (marcadas pela paixão, pelo amor, pelo ciúme, pelo ódio, pela fúria, pela vingança, pelo abandono, pela traição, pela violência, pela quebra de liames), o convívio com os migrantes, com os estrangeiros, com o ‘outro’. O mito de Medeia, linguagem simbólica universal, é constantemente recuperado para ser (re)contado, interpelado, desmontado, reelaborado, reescrito, representado, de acordo com sensibilidades, experiências, realidades e propósitos diversos.

Doutora Susana Marques
Docente da cadeira de Teatro Grego na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Encenação

Nessa nova encenação da tragédia euripidiana, buscamos um aprofundamento nos conflitos internos da protagonista durante a execução de seu plano de vingança. A opção pela divisão da protagonista em três diferentes atrizes surge exatamente com esse propósito. Em referência à Deusa Tríplice, uma das muitas representações de Hécate, deusa mitológica da feitiçaria, há em cena a Donzela (faceta que remete à jovem princesa colca que traiu sua pátria por amor a Jasão), a Mãe (persona após o casamento com o líder dos Argonautas e mãe de seus filhos), e a Anciã (representação da feiticeira). Esses três fragmentos da protagonista alternam-se de acordo com seus interlocutores e, em determinado momento, entrarão em choque.

Outras duas adaptações destacáveis em relação ao texto original são o papel de maior relevância exercido pela Ama de Medeia e a introdução de um “Coro silencioso” de Erínias no terço final da peça. Na obra de Eurípides, a Ama surge logo no Prólogo e nos conta os antecedentes da história, a viagem dos Argonautas em busca do Velo de Ouro, a fuga de Medeia da Cólquida, o assassinato de Pélias, tio do herói, a chegada do casal em Corinto e o abandono da protagonista, após Jasão casar-se com a princesa da cidade grega. Após isso, não vemos mais a personagem. Em nossa montagem,

a Ama permanece em palco todo o tempo. É através dela que vemos a ação desenrolar-se e pela identificação com a personagem, o público torna-se também cúmplice de Medeia durante a vingança. Para além de uma espécie de narradora, a nossa, aqui jovem, Ama tem uma evolução própria e uma perda de sua inocência ao longo da trama.

Um dos traços mais marcantes das tragédias gregas é a presença de um coro, um coletivo de figuras que se aproximam em status social ou natureza do protagonista. Entretanto, optamos por trocar o coro original de mulheres coríntias por um de Erínias, criaturas infernais que personificam a vingança. Estas aparecem aos poucos, de forma silenciosa e dominam o espaço cénico, assim como o desejo de punir aqueles que lhe fizeram mal surge em uma desenfreada crescente dentro de Medeia. Quando percebe, a protagonista já não vê outro caminho senão seguir executando os crimes.

Em suma, buscamos humanizar Medeia, figura tratada tão comumente com loucura e frieza, externalizar seus conflitos colocando-a em diálogo com outras facetas de si mesma, e mostrar como uma tragédia impacta não apenas a vida daqueles diretamente ligados a suas consequências, mas todos ao redor.

Arthur Montenegro
Encenador

Sinopse

A tragédia clássica de Eurípides transporta-nos para o dia em que Medeia, uma princesa estrangeira que traiu a sua pátria pelo amor de Jasão, executa a sua vingança após o marido a abandonar com os filhos para se casar com a princesa de Corinto.
Nesta nova montagem, a protagonista é dividida em três figuras, em alusão à Deusa Tríplice, uma das muitas representações de Hécate, deusa à qual Medeia presta culto. Em cena, as facetas da Princesa estrangeira, da Mulher de Jasão e Mãe de seus filhos, e, da Feiticeira revezam-se para a realização dos crimes, aprofundando os conflitos internos daquela que é uma das mais desaventuradas protagonistas do Teatro Clássico.

Ficha Técnica

Texto original: Eurípides

Tradução: Maria Helena da Rocha Pereira Dramaturgia e Encenação: Arthur Montenegro Produção: Arthur Montenegro e Ricardo Acácio

Interpretação: Ana Clara Dias, Beatriz Vilela, Daniel Ribeiro, Filipe Oscar, Izabel de Rohan, Nuno Vasco, Simone Duarte, Stéphanie Lopes, Tiago Monteiro e Valentina Mattar

Guarda-roupa: Julia Araujo

Cenário e Adereços Cénicos: Inês Freitas, Julia Araujo e Laura Noleto

Maquilhagem e Caracterização: Alexandra Seraphim e Nicole Gregório

Coreografias: Ana Clara Dias e Beatriz Vilela

Intérprete Musical (flauta transversal): Tiago Monteiro

Desenho de Luz: Arthur Montenegro

Técnico de Luz: Gustavo Barroso

Técnica de Som: Fernanda Michelluti

Divulgação: Luisa Noleto

Criação Gráfica: Eulália Marques e Luisa Noleto

Stage Manager: Julia Araujo, Inês Freitas e Luisa Noleto

Fotografias e Filmagem: Maria Fernanda Fonte

Duração aproximada: 80 minutos

Faixa Etária: 14 anos

Agradecimentos

Doutor Albano Figueiredo - Doutor Delfim Leão - Doutor José Luís Brandão Doutora Carmen Soares - Doutora Fátima Ferreira - Doutora Susana Marques - Doutora Cláudia Cravo - Doutor Martinho Soares - Doutora Sara Troiani Doutora Maria de Fátima Silva - Doutora Ana Isabel Nistal Freijo - Rui Ribeiro Ana - Margarida Prata Bernardo - Elsa Mota - Catarina Pereira - Daniela Pereira Gabriel Affonso - Carla Mesquita - Marlene França - Thaís Cristina dos Santos - Alexandra Seraphim - Amanda Toledo - Ana Luisa Padula - Fernanda Cabral Julia Tenore - Henrique Emura - Sofia Vieira - Vitor Buller

(c)

Atuações

Associação Cultural Thíasos

Fatal (Lisboa) | 22 maio | 19:30 [antestreia]

TAGV (MTU) | 25 maio | 21h30 [estreia]

Teatro Paulo Quintela | 29 maio | 21h00 | ENTRADA LIVRE

Mosteiro de Santa Maria de Semide | 30 junho | 20h30

Alcobaça (Jardim do Amor) | 10 julho | 21h00

Ruínas de Conímbriga | 12 julho | 21h00 | ENTRADA LIVRE