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Exposição Eduardo PESSOA Lourenço

Exposição sobre a Biblioteca Pessoana de Eduardo Lourenço doada pelo autor à BGUC. Iniciativa integrada no programa oficial da Comemoração do Centenário de Eduardo Lourenço.

Apresentação

A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC) inaugurou no dia 21 de maio, às 18h00, a mostra «Eduardo PESSOA Lourenço». A exposição ficará patente na Sala de São Pedro (2.º piso da BGUC) até 30 de julho, de segunda a sexta-feira, 14h30–17h30 (exceto feriados), com entrada livre.

«Eduardo PESSOA Lourenço» tem curadoria de A. E. Maia do Amaral, António Pedro Pita, Rui Jacinto e Manuel Portela. É uma organização da BGUC, Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Ibéricos, com o apoio do Município de Coimbra e da Liga dos Amigos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (LIBUC) e está integrada no Programa do Centenário de Eduardo Lourenço. Para lá da exposição, é possível assistir a conferências [21 de maio, terça-feira, 18h, Inauguração: «Livros de Pessoa de Lourenço», por João Dionísio (FLUL), 16 de julho, terça-feira, 18h00, no âmbito da iniciativa da LIBUC Tesouros da BGUC, «Submergir a grandeza sob as explicações: o Pessoa de João Gaspar Simões na leitura anotada de Eduardo Lourenço», com Osvaldo Manuel Silvestre (FLUC) e A. E. Maia do Amaral (BGUC)] e participar em visitas guiadas com os curadores [António Pedro Pita 04 de junho, terça-feira, 18h00; Rui Jacinto 18 de junho, terça-feira, 18h00 e Manuel Portela 02 de julho, terça-feira, 18h00].

A reserva de lugar é obrigatória para as conferências e visitas guiadas, através do e-mail bg-eventos@bg.uc.pt. Toda a informação está disponível aqui.

Eduardo PESSOA Lourenço — texto curatorial

Eduardo Lourenço amava e precisava dos seus livros e, contudo, decidiu em vida deixá-los partir numa intenção evidente de dar a ler aos outros. Repartiu a sua biblioteca por entidades diversas, em várias cidades [1], cabendo à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra a parte da «Pessoana», livros de e sobre Fernando Pessoa, um dos seus grandes e heterodoxos interesses intelectuais. Separados por sua mão, segundo o seu próprio critério, são cerca de 500 obras, incorporadas em 2014, que se encontram tratadas e acessíveis no nosso catálogo integrado.

As bibliotecas de escritores têm sido analisadas no pressuposto de que o conhecimento do conteúdo e das práticas de leitura podem elucidar as suas obras. Todavia, o trânsito das marcas de leitura para as marcas de escrita não é linear nem unidirecional, ou seja, dos textos lidos para os textos escritos. Esse trânsito também acontece no sentido inverso na medida em que os atos de leitura geram processos de invenção escrita que ressignificam os textos lidos. De resto, a maior parte desta dinâmica não deixa registo direto: ela ocorre apenas no sistema cognitivo expandido formado pela lectoescrita, isto é, pela expansão do pensável e do escrevível na consciência de um sujeito.

Ao ocupar-se de processos de apropriação da leitura que estão na base da criação literária, a crítica genética tem distinguido entre marginalistas e extratores. Os autores marginalistas deixam as suas marcas de leitura nos próprios documentos, sublinhando no corpo do texto e escrevendo nas entrelinhas, nas margens e nas folhas de rosto e de guarda. Os autores extratores transcrevem passos para os seus cadernos, por vezes sem identificação clara das fontes, usando-os para alimentar a sua imaginação.

Mas as marcas explícitas de leitura – que as convenções académicas transformaram na obrigatória lista de referências – constituem apenas uma das dimensões do processo de apropriação e transformação da leitura pressuposto em todos os atos de escrita. De resto, Eduardo Lourenço trabalha muitas vezes com alusões implícitas que entrelaça no seu discurso ensaístico, e que só por engenharia invertida se conseguem identificar. Um bom exemplo deste procedimento é a obra Heterodoxia I (Coimbra Editora, 1949), cuja rede de citações e referências foi parcialmente reconstituída num dos painéis desta exposição.

A exposição «Eduardo PESSOA Lourenço» tem dois objetivos principais: por um lado, dar a conhecer a biblioteca pessoana de Eduardo Lourenço; por outro, dar a ver a partir das suas práticas de leitura, tal como se podem inferir das marcas e sinais nos próprios livros, a natureza decisiva do seu encontro com Pessoa. O olhar poliédrico que propomos sobre a leitura de Pessoa encontra-se dividido em oito facetas: «Pessoana ativa», «Pessoana passiva», «fazer biblioteca/dar a ler», «ler ou desistir de ler», «regressar ao livro», «uma vida dentro do livro», «usar livros e bibliotecas» e «usar a BGUC». A exposição permite ainda imaginar perguntas mais vastas: como dialoga a produção pessoana de Eduardo Lourenço com as suas leituras? Como se relacionam as referências explícitas com as referências implícitas nessa produção? Como lê um escritor? Como lê heteronimicamente? Com a exposição «Eduardo PESSOA Lourenço”, a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra associa-se às comemorações do centenário do nascimento de Eduardo Lourenço (1923-2023).


[1] Em Coimbra, existem outros núcleos da Biblioteca de EL: na Faculdade de Letras e na ex-Casa da Escrita (Casa da Cidadania da Língua) desde 2015. Além destes núcleos, cerca de 3000 volumes (na sua maioria nos domínios da Filosofia, História e Literatura) foram doados em 2008 à Biblioteca Municipal da Guarda, cujo novo edifício, inaugurado em 2008, passou a designar-se Biblioteca Eduardo Lourenço. Refira-se ainda que o seu arquivo documental (c. de 100.000 documentos, entre os quais 11.000 itens de correspondência) foi adquirido pela Biblioteca Nacional em 2015.

Eduardo Lourenço

Eduardo Lourenço nasceu em São Pedro de Rio Seco (Almeida) a 23 de maio de 1923 e faleceu em Lisboa, a 1 de dezembro de 2021.

Considerado um dos mais prestigiados intelectuais europeus e uma das mais emblemáticas figuras do século XX português, Eduardo Lourenço deixa uma obra de vulto e um legado que o perpetuará na história da Cultura Portuguesa.

Eduardo Lourenço frequentou o Liceu da Guarda e cursou Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde lecionou como professor assistente até 1953, assumindo desde então uma atitude crítica e um pensamento autónomo.

A partir de 1954, lecionou em universidades estrangeiras nas cidades de Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, São Salvador da Baía, Grenoble e Nice, onde se aposentou em 1988, ficando a viver na região. Fixou residência em Vence até 2013, altura em que, após a morte da esposa, Annie Salomon de Faria, regressou a Portugal.

Atento à realidade portuguesa, participou na vida política do país através da obra escrita e até no apoio a figuras e candidaturas políticas, apesar do seu afastamento. A produção ensaística de Eduardo Lourenço, abrangendo diversas áreas, da literatura e da arte aos acontecimentos políticos contemporâneos, tornou-se um fenómeno singular na cultura portuguesa, orientada por uma constante argumentação personalista, que se traduziu em mais de 40 livros e inúmeros artigos, prefácios, críticas e recensões. As suas Obras Completas têm vindo a ser editadas pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Expoente máximo do ensaísmo literário e cultural contemporâneo, Eduardo Lourenço foi unanimemente reconhecido no meio universitário com quatro Doutoramentos Honoris Causa e no meio cultural e social com a atribuição de vários prémios nacionais e internacionais, para além de condecorações dos Estados Português, Francês e Espanhol, e de inúmeras homenagens.

Através do desafio da criação, na Guarda, em 1999, de um Instituto da Civilização Ibérica que unisse as duas Universidades mais antigas da Península (Coimbra e Salamanca), Eduardo Lourenço retornou simbolicamente à sua cidade como Diretor Honorífico do Centro de Estudos Ibéricos e como patrono da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, inaugurada em 2008 e que conta com grande parte do seu acervo literário.

Fonte: centenarioeduardolourenco.pt/biografia-vida-e-obra

O núcleo Pessoano de Eduardo Lourenço na BGUC

Fotografias de Duarte Belo

Atividades e inscrições


Todas as atividades terão lugar na Sala de São Pedro, no 2.º piso da BGUC. A entrada é gratuita, mas sujeita a inscrição prévia (para o email bg-eventos@bg.uc.pt ou nos formulários indicados), devido à lotação limitada.


PALESTRAS
INAUGURAÇÃO «Livros de Pessoa de Lourenço», João Dionísio (FLUL), 21 de maio, terça-feira, 18h00

INSCRIÇÃO


TESOUROS DA BGUC «Submergir a grandeza sob as explicações: o Pessoa de Joao Gaspar Simões na leitura anotada de Eduardo Lourenço», com Osvaldo Manuel Silvestre (FLUC) e A. E. Maia do Amaral (BGUC), 16 de julho, terça-feira, 18h00

INSCRIÇÃO


VISITAS GUIADAS

António Pedro Pita 04 de junho, terça-feira, 18h00

INSCRIÇÃO


Rui Jacinto 18 de junho, terça-feira, 18h00

INSCRIÇÃO


Manuel Portela 02 de julho, terça-feira, 18h00

INSCRIÇÃO

Ficha técnica

CURADORIA A. E. Maia do Amaral, António Pedro Pita, Rui Jacinto e Manuel Portela

PALESTRAS João Dionísio e Osvaldo Manuel Silvestre

PRODUÇÃO E COMUNICAÇÃO Isabel Campante

DESIGN GRÁFICO Joana Monteiro

AGRADECIMENTOS Bibioteca Nacional de Portugal, Biblioteca Norte/Sul (BN/S) do CES, Bombeiros Sapadores de Coimbra, Fátima Carvaljo, Isabel Ramires, João Dionísio, Osvaldo Manuel Silvestre e Raquel Dias

Organização

Apoios

Iniciativa integrada no centenário de Eduardo Lourenço