«O dia em que eu nasci, morra e pereça.» E se o início de um soneto de Luís de Camões nos permitir indicar o dia 23 de janeiro de 1524 como a sua data de nascimento? Afinal, se alguma investigação baseada no estudo da astronomia – área que Camões dominava – já possibilitou reinterpretações de trechos de «Os Lusíadas», é muito provável que o quarto verso daquele poema seja uma alusão a certo eclipse solar visível em Portugal, em 1525.

«O dia em que eu nasci, morra e pereça
Não o queira jamais o tempo dar,
não torne mais ao mundo e, se tornar,
eclipse nesse passo o sol padeça.»

Passados 500 anos desse «dia em que eu nasci», a Biblioteca Geral e a Imprensa da Universidade de Coimbra (BGUC e IUC) vão debater esta hipótese, no próximo dia 23, pelas 17 horas, numa sessão na Sala de São Pedro, em que participam Carlota Simões, João Fernandes e Rita Marnoto.

Professora da FCTUC e diretora da IUC, Carlota Simões explicará o processo de «procurar efemérides astronómicas, consultar tabelas de eclipses e, a partir delas, determinar a data de nascimento de Luís de Camões», com uma precisão muito superior à que é oficialmente conhecida: «nasceu por volta de 1524 ou 1525». Afinal, o seu biógrafo Manuel de Faria e Sousa chegou a este vago período de dois anos baseando-se num documento sobre o embarque do poeta para a Índia, em 1550, quando teria cerca de 25 anos de idade.

A primeira abordagem sobre o facto de que «Camões tinha um conhecimento claro e seguro dos princípios da astronomia, como ela se professava no seu tempo», e que utilizava com rigor tabelas de efemérides astronómicas, foi feita por Luciano Pereira da Silva, entre 1913 e 1915, em vários artigos que se encontram reunidos n'«A Astronomia dos Lusíadas». O estudioso apontava passagens concretas na maior obra camoniana e concluía que a principal fonte do épico, neste domínio, eram as ideias de Sacrobosco, mas com as modificações que Pedro Nunes anotou no seu «Tratado da Sphera».

O diretor do Observatório Geofísico e Astronómico da UC João Fernandes, numa intervenção com o título «O Eclipse e o Tempo: de hoje e de outrora», vai esclarecer como os eclipses solares e lunares seriam previstos, com grande precisão, no tempo de Luís de Camões.

A encerrar, a catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Rita Marnoto, dissertará sobre referências a eclipses em vários outros livros relevantes editados naquela época.

A entrada é livre.

(Devido à lotação da sala, é aconselhável a reserva por email ou pelo preenchimento deste formulário.)