Episódio #46 com Margarida Rodrigues
Um caminho profissional de portas abertas para apoiar estudantes a alcançar o sucesso académico
Na casa de Margarida Rodrigues sempre se debateram as injustiças sociais. E essa preocupação com as condições de vida de outras pessoas acabou por marcar o ingresso da psicóloga do Núcleo de Integração e Aconselhamento dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) nas Ciências Sociais, primeiro na formação em Serviço Social e, mais tarde, em Psicologia. A assinalar 20 anos de carreira a apoiar a comunidade de estudantes da Universidade de Coimbra (UC), traz consigo, todos os dias, a missão de apoiar estudantes para que possam alcançar o sucesso académico, condição essencial para a prossecução dos seus estudos no ensino superior, especialmente nos casos em que necessitam de receber apoios sociais.
O meu percurso na Universidade de Coimbra tem muito a ver com aquilo que sou enquanto pessoa e com todo o meu desenvolvimento, porque cresci na cidade e é impossível dissociar a cidade da UC. Cresci a ver estudantes universitários a passarem pela cidade com as suas capas pretas esvoaçantes. E, de alguma forma, sempre fantasiei muito esta vontade de ser estudante.
Em termos do percurso profissional, comecei em 2003, o que significa que este ano passam 20 anos desde que comecei a trabalhar na Universidade de Coimbra. O meu caminho começou no serviço de alojamentos, enquanto assistente social. Daí ter sugerido uma residência universitária [a residência universitária Polo II-2] para a realização desta conversa, espaço que vi ser construído e onde fiz as primeiras colocações. E foi este percurso profissional que me levou a querer estudar mais a fundo o comportamento humano. Acabei por me formar em Psicologia, área profissional em que exerço, há cerca de 12 anos, no Núcleo de Integração e Aconselhamento.
Sim, completamente. Desde criança, sempre questionei muito as coisas, particularmente as disparidades nas condições de vida. E, como os meus pais sempre foram muito ativos no que se refere a injustiças sociais e a dificuldades económicas, fui percebendo, desde cedo, que as pessoas com dificuldades económicas tinham mais dificuldades em ter êxito na vida.
Quando chegou a altura de ingressar no ensino superior, não sabia bem para que área deveria ir. Acabei por ingressar em Gestão, mas rapidamente percebi que era a área social e humana que me puxava. Já a trabalhar na Universidade de Coimbra, e ao constatar que o meu trabalho também se centrava muito no apoio social indireto – isto é, no comportamento humano, particularmente quando se é estudante e o que pode aí ser desenvolvido – percebi que gostaria de aprofundar conhecimentos na área da Psicologia.
O trabalho que desenvolvo é muito diversificado, mas sempre dirigido para a igualdade de oportunidades e para a promoção de programas de saúde e bem-estar, com a missão de apoiar estudantes a alcançar o sucesso académico. No NIA, trabalhamos sempre em rede, é impossível trabalharmos sozinhos. Trabalhamos com as faculdades, com a Associação Académica de Coimbra, e mesmo com organizações fora da UC.
Este trabalho baseia-se em três grandes áreas de intervenção: uma prevenção universal, uma prevenção seletiva e uma prevenção indicada. A prevenção universal traduz-se nos programas de desenvolvimento de competências gerais, sendo direcionada a qualquer estudante da UC. Já os outros níveis de intervenção têm a ver com a identificação de alguns fatores de risco, que, depois de identificados, se traduzem numa intervenção direcionada para prevenir, que passa por um apoio precoce para combater o insucesso escolar. E também desenvolvemos programas indicados, com um carácter remediativo, quando já existe perturbação e dificuldade. E, para fazer frente a estas situações, temos programas que são individualizados ou realizados em pequenos grupos, de forma a que seja possível fazer um trabalho mais direcionado.
No NIA temos, por exemplo, um programa de apoio psicopedagógico, que é dirigido a todos os estudantes da Universidade de Coimbra, que se chama “UC Skills”, e que tem por objetivo a promoção do desenvolvimento de competências psicopedagógicas. Essas formações são dadas duas vezes por ano, sempre no início de cada semestre, e subdividem-se em quatro módulos: gestão de tempo, métodos de estudo, apresentações de trabalhos orais e gestão de stress e ansiedade, que fazem parte da vida de qualquer estudante.
Ainda dentro da área do apoio psicopedagógico, temos um programa direcionado para situações em que a dificuldade já está instalada ao nível do insucesso escolar, que é dirigido às residências universitárias, porque a ação social baseia-se no sucesso académico dos estudantes para que possam aceder a apoios sociais. E sabemos bem que um dos fatores de risco para o insucesso académico são as dificuldades económicas. Para já, e por uma questão de recursos, este programa é destinado a estudantes que estejam em situação de insucesso académico e que habitem em residências universitárias, mas temos o objetivo de o alargar a todos os estudantes da UC.
Temos também o “Programa de Apoio Pelos Pares”, que dá acesso ao suplemento ao diploma para quem colabora, cujo apoio é alargado a todos os estudantes da UC. Mas, também neste programa, temos trabalhado muito nas residências universitárias, porque este modelo de peer counseling, que junta pessoas a passar pelas mesmas circunstâncias, funciona muito melhor do que quando são apenas técnicos superiores especializados a prestar este apoio. Eu trabalho diretamente com os delegados das residências, ao longo de todo o ano, dando formações, para que eles possam adquirir competências para apoiar os colegas.
Também organizamos outras atividades para promover o bem-estar, como a ceia de Natal, que é feita, todos os anos, de 24 para 25 de dezembro, numa residência universitária com o apoio dos serviços de alimentação dos SASUC. O desporto também tem um papel essencial e, por isso, temos uma relação muito próxima com o Desporto UC. E, por exemplo, nos Jogos Universidade de Coimbra existe uma liga específica das residências, onde estudantes e trabalhadores dos SASUC jogam juntos, perdendo e ganhando em conjunto. Esta proximidade é muito importante para todos. Recentemente fizemos também uma parceria com o programa “Step by Step” para trabalharmos o insucesso escolar de uma forma mais alargada, que agregue todos os estudantes da UC.
Sou uma pessoa que gosta de desafios e não gosto de rotina. E, por isso, acho que estou no sítio certo, porque o trabalho no NIA é bastante desafiante, variado e não tem rotinas. E também me motiva bastante trabalhar em prol das pessoas, podendo, efetivamente, ter um impacto positivo na vida de alguém.
O que levo deste caminho, e que é para mim é muito importante e impactante, é a oportunidade que me é dada de tocar a vida de alguém.
Antes de mais, felicito-os por pertencerem à UC, um espaço muito variado e agregador. Ser estudante é bom, mas tem muitos desafios, uns mais fáceis que outros. E nós estamos aqui para ajudar a potenciar quem está bem, quem quer melhorar, e quem tem dificuldades. Estamos aqui de portas abertas para todos.
Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro, DCOM e Inês Coelho, DCOM
Imagem e Edição de Vídeo: Ana Bartolomeu, DCOM e Marta Costa, DCOM
Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR
Publicado a 16.02.2023