Episódio #3 com Agostinho Salgado
A jardinagem de geração em geração e o fascínio de trabalhar num jardim cheio de histórias
Há mais de 30 anos a trabalhar no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (JBUC), Agostinho Salgado seguiu o caminho do pai e do avô e tornou-se jardineiro. A propósito do Dia Internacional do Fascínio das Plantas, que se assinala em maio, fomos até à Estufa do JBUC para conhecer a história de um dos jardineiros da Universidade de Coimbra. Nesta conversa, desvendamos ainda os segredos que se passam de geração em geração, alguns cuidados a ter com as plantas e também técnicas para memorizar todos os nomes das espécies que encontramos nos 11,7 hectares do Jardim Botânico.
O meu percurso na Universidade de Coimbra já começou há alguns anos, há 32, mais precisamente em agosto de 1988. Na altura, fiz a escolaridade obrigatória e surgiu a oportunidade de vir trabalhar aqui no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Uma boa oportunidade… E foi assim que começou o meu percurso na Universidade de Coimbra. Já o meu avô tinha sido funcionário aqui e o meu pai também. Este é quase um jardim de família: no caso dos meus colegas, os pais, e também em alguns casos os avôs, também trabalharam aqui.
Sim, passa sempre alguma coisa, não só dentro do Jardim, mas também fora dele, como nos campos que nós temos. E foi aí que nasceu também o incentivo, por já gostar da jardinagem e de mexer com plantas. Não aqui neste mundo do JBUC, que é um mundo muito diverso, mas também foi fora dele que começou esta paixão.
Neste momento é um bocadinho difícil haver uma rotina diária. Somos quatro jardineiros e todos os dias há coisas novas a acontecer. O Jardim é imenso e é difícil ter uma rotina, pelos imprevistos que surgem. Mas há sempre algumas rotinas. Por exemplo, há rotinas aqui dentro da Estufa, onde nos encontramos, de regras, de limpeza, das mondas. E, neste caso, faço também orientação do resto dos trabalhos dos camaradas aqui do Jardim. E é assim, é um dia cheio, sempre!
Os trabalhos depois da Leslie foram uma experiência nova, foi uma experiência que trouxe muito mais trabalho e mais dedicação, porque as plantas são históricas e é preciso ter muito cuidado a removê-las, para não ferir outras. As podas foram também muito importantes nessa fase.
Viver aqui ao ar livre é muito mais saudável. E este Jardim é um encanto também e sentimo-nos aqui muito bem. Sobre as recompensas, é agradável, respira-se ar puro. É fantástico e é fascinante!
Gosto da Figueira Estranguladora, pela sua dimensão, pelas suas raízes aéreas, a sua beleza também, a sombra, que agrada muito aos turistas também. É uma árvore fantástica.
Aqui todas as plantas precisam de cuidados especiais. Aqui na Estufa, por exemplo, todas estas plantas precisam de um outro cuidado, porque o espaço precisa de ser controlado ao nível da luz. As cortinas têm que se abrir e fechar no verão e no inverno para proteger. Aqui dentro, neste espaço, tem que se ter sempre muito mais cuidado. As que estão lá fora já estão ambientadas e lá fora é mais fácil.
Aqui lida-se muito com os nomes científicos e no início pode ser uma confusão. A estratégia era escrever e apanhar alguns ramos e aprender a identificar as plantas. Decorar tudo é impossível, mas conheço muitas plantas pelos nomes científicos. Exige dedicação também ao longo desta caminhada aqui na vida do Jardim.
Há aqui espaços muito bonitos. Aliás, o JBUC é todo bonito. Mas por ser o espaço onde iniciei a minha carreira aqui no Jardim, é o terraço da Figueira Estranguladora. É um espaço sempre marcante, porque o meu primeiro dia de trabalho foi lá.
Quando um visitante entra no JBUC, o desejo é que ele fique a conhecer bem o Jardim, como é que ele funciona… Porque também é importante que as pessoas percebam como é que o espaço funciona. E que saia daqui satisfeito e que comente com os vizinhos, com os amigos, e que volte cá outra vez.
Os colegas anteriores, os colegas mais velhos, que nos ensinaram algumas coisas em termos de ferramentas que se faziam cá no Jardim, como vassouras à base de bambus. Nessa altura, o JBUC já fazia reciclagem de matérias. Hoje fala-se muito nesse tema e o Jardim sempre fez essa parte. E a partir dos bambus faziam-se, então, vassouras para varrer as folhas no inverno. E esse testemunho ficou marcado na minha vida.
Faz-se sempre reciclagem dos restos das podas, das folhagens, e faz-se compostagem. E depois aproveita-se essa terra vegetal para colocar nos vasos das plantas.
Há uns conselhos fáceis. A luz, por exemplo, temos que ver lá em casa quais são as plantas que se adaptam mais à luz ou mais à sombra. As regas são muito importantes também, nomeadamente se é preciso regar sistematicamente, todos os dias, ou dia sim dia não. Tem que se regar conforme a necessidade das plantas, porque se se encharcar muito as raízes elas ficam podres e acabam por morrer. Aliás, as plantas com excesso de água morrem se calhar mais rápido do que se tiverem sede. E é fácil de controlar a necessidade de rega: basta ir ao vaso e enfiar o dedo em um centímetro ou dois de terra para verificar se o substrato está húmido. E se estiver a rega pode ser adiada mais um dia ou outro. No caso dos vasos, deve trocar-se de vaso quando a plantas e as suas raízes estão muito apertadas. E ainda a questão do substrato, claro, porque a planta vai “comendo” e precisa de ser renovado; pelo menos uma vez por ano é bom renovar. São coisas simples e acho que cada um tem um jardineiro dentro de si.
Às vezes esse tom amarelado pode ser provocado pelo excesso de água. Há pouco falei da questão da rega e também é preciso fazer uma boa drenagem também nos vasos para a água escorrer e drenar bem. Às vezes o excesso de água também prejudica.
Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro e Inês Coelho, DCOM
Imagem e Edição de Vídeo: Marta Costa, DCOM
Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR
Publicado em 20.05.2021