Episódio #1 | PAS GRAS: a investigação que une áreas do saber para prevenir e reduzir a obesidade em crianças, jovens e adultos na Europa

“É um projeto perfeito para o mundo em que vivemos”, partilha o líder do PAS GRAS: redução de riscos metabólicos, determinantes ambientais e comportamentais da obesidade em crianças, adolescentes e jovens adultos, Paulo Oliveira. E que mundo é este ao qual se refere o coordenador desta ambiciosa investigação? “Um mundo propício ao excesso de peso, em que compramos coisas com excesso de açúcar, no qual a nossa atividade física é cada vez mais reduzida, o que conduz as pessoas ao excesso de peso e à obesidade”, sublinha o investigador da Universidade de Coimbra (UC).

A obesidade é caracterizada pelo excesso de gordura corporal em quantidades que são prejudiciais para a saúde e está também relacionada com outros fatores genéticos, socioeconómicos e ambientais. Neste contexto, a equipa do PAS GRAS propõe uma abordagem interdisciplinar ao excesso de peso e à obesidade, para que, até 2050, seja possível reduzir a prevalência da obesidade em várias faixas etárias, diminuindo, mais precisamente, em cerca de 15% a prevalência da obesidade nos adultos, e em cerca de 30% nas crianças e jovens da Europa.

E como é que o PAS GRAS vai procurar cumprir esta ambiciosa meta? Juntando uma equipa interdisciplinar que atua em várias frentes, desde o desenvolvimento de biomarcadores, ao acompanhamento de vários grupos de estudo, tendo em vista o desenvolvimento de campanhas de literacia para dotar com informação e estratégias cidadãos e atores relevantes; a criação de um instrumento de avaliação do risco personalizado (do inglês Risk Assesment Toolbox), para a identificação e caracterização do risco de obesidade de cada pessoa; e a realização de ensaios clínicos em vários países europeus, como Espanha, Itália, Portugal e Suécia.

“As políticas de combate à obesidade têm falhado, não só em Portugal, mas também no resto da Europa e no mundo", contextualiza Paulo Oliveira. “A prevalência da obesidade e do excesso de peso em Portugal estão a aumentar, estimando-se que cerca de 55% da população portuguesa tenha excesso de peso, percentagem com clara tendência a aumentar”, alerta o também investigador do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CIBB) – formado pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC), pelo Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR) e por investigadores do Centro de Estudos e Investigação em Saúde da UC (CEISUC).

Para o líder do PAS GRAS, é urgente “inverter esta curva de crescimento”. “Só com um projeto como este – que procura perceber o que está por trás da obesidade e do ganho de peso excessivo, nos seus mais variados níveis – é que podemos mudar esta tendência de crescimento da obesidade em diversas faixas etárias”, acrescenta o também vice-presidente do CNC-UC. Neste contexto, o projeto assume como públicos-alvos crianças (3-9 anos), adolescentes (10-18 anos), jovens adultos (19-25 anos), adultos (25-55 anos) e respetivas famílias, com excesso de peso ou obesidade.

Financiado pelo programa Horizonte Europa, promovido pela Comissão Europeia, com cerca de 9,5 milhões de euros, o PAS GRAS é liderado pela Universidade de Coimbra, à qual se juntam mais 15 entidades nacionais e europeias. Na UC, envolve perto de 60 investigadores, de cerca de uma dezena de unidades de ensino e investigação. “Temos um grupo de trabalho enorme e fantástico aqui na UC, que envolve, além de investigadores do CIBB, equipas de investigação das Faculdades de Medicina, Ciências e Tecnologia, Economia, e Ciências do Desporto e Educação Física, por exemplo”, partilha Paulo Oliveira.

Ao longo dos cinco anos em que o projeto vai ser implementado, vão ser conduzidos estudos de acompanhamento de grupos de pessoas de várias faixas etárias. O objetivo passa por “perceber os seus estilos de vida, especialmente em termos da atividade de física e de escolhas alimentares, e oferecer conteúdos de literacia e de programas relacionados com uma melhor alimentação e prática de exercício”, explica o investigador da Universidade de Coimbra.

O PAS GRAS arrancou a 1 de maio de 2023, tendo os primeiros meses sido dedicados à preparação e início dos contactos com participantes, preparação de ensaios clínicos e início das experiências em laboratório. Conta já com alguns avanços, desde logo os estudos de acompanhamento do público em idade escolar. Paulo Oliveira revela ainda que já conseguiram “alguns biomarcadores importantes para prever se alguém vai sofrer de excesso de peso ou de obesidade e se pode ou não vir a ter complicações”.

As campanhas de prevenção e combate à obesidade, que são também atividades centrais do PAS GRAS, também já começaram a ser preparadas. “Estamos a adotar uma abordagem colaborativa para criar mensagens com pessoas obesas e com excesso de peso, mas não só, que nos vão explicar como fazer mensagens de modo a que outras pessoas as percebam e sigam essas recomendações, que é algo que tem falhado redondamente”, avança o líder do projeto.

Todas as ações que estão a ser desenvolvidas, e as restantes que se avizinham, partem de um olhar multidisciplinar sobre o excesso de peso e a obesidade, que permite estudar esta problemática de saúde do ponto de vista biológico, como também antropológico, ambiental, socioeconómico, e da literacia em saúde. A investigação pretende, com esta abordagem, clarificar o papel do estilo de vida, saúde mental, fatores familiares, socioeconómicos e do ambiente no desenvolvimento da obesidade, e a sua interação com as características genéticas e metabólicas de cada pessoa.

Este projeto vencedor de um competitivo programa de financiamento – foi um dos seis projetos aprovados pelo programa Horizonte Europa no pilar II do cluster Saúde – é o resultado de um longo processo de trabalho prévio. “O PAS GRAS é o resultado de muito trabalho para trás no âmbito de outros projetos colaborativos com as entidades parceiras, que contribuiu para o sucesso desta candidatura”, partilha Paulo Oliveira.

A investigação conta com a colaboração da Associação de Ginástica do Centro (Portugal), da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (Portugal), do Conselho Nacional das Pesquisas (Itália), da Fundação EURECAT (Espanha), do Instituto Nencki de Biologia Experimental (Polónia), do Instituto Pedro Nunes (Portugal), do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (Portugal), do King's College de Londres (Reino Unido), da Mediagnost (Alemanha), da Sociedade Europeia de Investigação Clínica (Países Baixos), da Universidade de Bari (Itália), da Universidade de Martin Luther Halle-Wittenberg (Alemanha), da Universidade de Uppsala (Suécia), da Universidade Nova de Lisboa (Portugal) e da Universidade Técnica de Munique (Alemanha).

Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro, DCOM e Inês Coelho, DCOM

Imagem e Edição de Vídeo: Ana Bartolomeu, DCOM e Marta Costa, DCOM

Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR

^{Publicado a 25.01.2024}